Televisão por Elmo Francfort Ankerkrone Outubro 05, 2001 Índice das matérias já publicadas O canal dos Bandeirantes Esta semana falaremos sobre o Canal 13 de São Paulo, a Rede Bandeirantes. Uma emissora que em sua história tem importantes capítulos até mesmo os que antecederam sua entrada no ar. Misticismo, televisão, inovação... Estas são algumas das marcas do canal do Morumbi. Com vocês, o início da TV Bandeirantes. Uma emissora de sorte De sorte mesmo...João Jorge Saad era um homem supersticioso e acreditava muito na sorte e em numerologia. Os números 13 e 7 foram seus companheiros em várias empreitadas. Logo explicaremos como... Seu império começou com a compra da Rádio Bandeirantes em 1948. Antes a rádio era propriedade da família da família Machado de Carvalho, ligada às "Emissoras Unidas" (Rádio Record, Rádio São Paulo, Rádio Panamericana - atual Jovem Pan -, Rádio Bandeirante - sem "s" inicialmente, TV Record - canal 7 - e TV Rio - canal 13 do Rio de Janeiro). Com a compra da emissora começa o embrião do Grupo Bandeirantes. Com uma programação 100% nacional, a Rádio Bandeirantes foi a primeira emissora que formou uma rede de rádios no país, após estabelecer a "Cadeia Verde Amarela", composta de 90 emissoras de todo Brasil, todas em ondas curtas. Aos poucos São Paulo costumava a apenas ouvir a Rádio Bandeirantes (840 AM). Foi desta época que começaram a brotar os vínculos entre as famílias paulistanas e a rádio, muitas que até hoje são ouvintes assíduas da emissora. Grande sucesso da época era "O Trabuco", de Vicente Leporace. Além dos show e radionovelas da emissora - que acabavam por competir com a Rádio São Paulo ("Unidas"), que depois seria comprada por Saad. O slogan da emissora era "a mais popular emissora paulista". No último mandato de Getúlio Vargas, entre 1952 e 1953, foi concedida à Saad a concessão do canal 13 da cidade. E em fevereiro de 1953 já saía a publicidade: "Sempre melhorando... o BANDEIRANTES anuncia: em 1953 - Ondas Curtas - 23 mts. 11.925 KLCS (kilociclos) / 40 mts. 6185 KLCS em 1954 - Televisão - Canal 13" Mas seguindo a mesma idéia da Fundação Cásper Líbero, resolveu também esperar um bom tempo e preparar a entrada da emissora no ar (a TV Gazeta só entrou em 1970). Assim desistiram do sonho de serem a quarta emissora da capital, depois da Tupi, Paulista e Record, respectivamente. Em 1961 Saad lançou um projeto mais ambicioso. Não ia apenas fazer sua emissora, mas também centralizar suas sedes em uma só. Assim começa a nascer naquele ano as primeiras edificações do "Palácio Encantado" (apelido dado pelos seus funcionários mais tarde), no bairro do Morumbi. Nas revistas televisivas, como "São Paulo na TV", "7 Dias na TV" e "Intervalo" por muito tempo apareceram citações às obras grandiosas do prédio da "emissora do Morumbi" ou apenas "futuro canal 13". O que diferencia o início da Bandeirantes com o da Gazeta é que a Gazeta só no final da década de 60 se preocupou em fazer projetos para o canal 11. Já a Bandeirantes desde aquele 1961 já planejava desde a qualidade de seus equipamentos até o cuidado com uma programação que agradasse o público e que fosse de qualidade também. Em fevereiro de 1967, com sua torre no Pico do Jaraguá, entrava no ar imagens experimentais da emissora, como filmes, documentários e slides do estilo "vem aí. E em 13 de maio deste mesmo ano finalmente era fundado o canal 13 paulistano. O mais curioso foi o lado supersticioso desta fundação. O canal 13 foi fundado em um dia 13, do ano de 1967 ( 6 + 7 = 13). Além de ter sido fundada 13 anos depois do que era pretendido (1954). E o endereço oficial da Bandeirantes no Morumbi é Rua Radiantes, 13! O horário de sua fundação não sabemos...Mas quem sabe tenha sido às 13 horas? E no Rio de Janeiro, dez anos depois, para mandar ao ar as primeiras imagens da TV Guanabara (Band-Rio), canal 7, foi escolhido o dia 7 de julho (mês 7) de 1977, às 7 horas da noite! No dia de sua inauguração, o canal 13 seguiu a tradição dos demais canais, tendo a participação das autoridades (presidente Costa e Silva, governador Abreu Sodré e o prefeito da cidade Faria Lima, entre outros) e a do dono do grupo, João Jorge Saad, que no princípio da inauguração fez seu discurso e em seguida começou um show dos cantores Cláudia e Agostinho dos Santos. A Bandeirantes para agradar a população manteve defronte do "Palácio Radiantes" nos seus dois primeiros dias de programação um circo e um parque infantil. As crianças lotaram aquela região do Morumbi só para se divertirem no circo. Algumas das mães que esperavam seus filhos não estavam lá só por causa disso. As mães pobres tiveram direito a concorrer a cinco casas para morar, sorteio promovido com o apoio da primeira-dama do Estado, Dona Maria Abreu Sodré. Momentos Bandeirantes A TV Bandeirantes tinha nos seus primeiros anos um coelho como símbolo, este com seu chapéu bandeirante e uma espingarda na mão explodia o centro do test-patern da emissora e iniciava a programação. Era uma forma de competir com os mascotes das outras emissoras. No mesmo ano de inauguração lança a sua primeira novela, "Os Miseráveis" adaptação do conto do francês Victor Hugo por Walter Negrão e Chico de Assis. Cada capítulo tinha a duração de 45 minutos. Depois de "Os Miseráveis", todas as emissoras adotaram como padrão esta duração para suas novelas. Aí começava a história de uma Bandeirantes que no final da década de 70 e início da de 80 teria sua teledramaturgia muito bem premiada e assistida, com títulos como "Os Imigrantes", "Ninho da Serpente", "Cara a Cara", "Canoa do Bagre", "O Braço de Ferro" e remakes de novelas de sucesso, como "A Deusa Vencida" (Excelsior) e "Meu Pé de Laranja Lima" (Tupi). Em 1968 Antonino Seabra e Gilberto Martins assumiram a direção da emissora, depois passando para as mãos de Mário Pamponet. O livro "Almanaque da TV", de Ricardo Xavier ainda cita que no início era um grande número de diretores da emissora, até ela se firmar. Eram eles Murilo Leite, Amarílio Nicéa, Álvaro de Moya e Arapuã. E meu tio Luiz Francfort nos conta um pouco sobre um grande incêndio na TV Bandeirantes dois anos depois de ser inaugurada: "Em 1969, as emissoras "premiadas" com incêndios, foram, primeiro a TV Globo de S. Paulo, e em seguida a TV Bandeirantes, magnificamente instalada em sua sede do Morumbi. Apesar da quase destruição total, a emissora do Sr. João Saad, então sob a direção do Mário Pamponet, conseguiu voltar a transmitir, poucas horas depois do ocorrido, por meio de seus caminhões de externa." A emissora teve ajuda da NBC nos primeiros anos de sua programação colorida. E o símbolo modificou-se para o pavão colorido deste canal americano. E nesta época o pavão foi utilizado para o ajuste de cores para todos os televisores que estivessem ligados no canal 13. A Bandeirantes foi a primeira emissora do país a exibir uma programação 100% colorida. Outro símbolo da emissora foi uma bolinha, que parecia mais ou menos um ovo frito com duas salsichas curvadas em suas extremidades superior e inferior, formando um círculo. Quando chegou a cor ao canal em 1972 (como todas as outras emissoras) este logotipo ganhou a coloração vermelha. Foi a partir deste que começou a ser criado o símbolo da emissora, que se evoluiu aos poucos. "I Love Lúcio" trazia Lúcio Mauro e Arlette Salles como protagonistas deste primeiro programa humorístico da Bandeirantes. Nestes seus primeiros anos, o programa de jornalismo que mais se destacou foi "Titulares da Notícia", com Vicente Leporace, Murilo Antunes Alves, entre outros. E tinha uma simpática abertura onde homenzinhos passeavam através do mundo, com o planisférios rodando ao fundo. Leporace também apresentava o seu "Leporace Show", Ari Toledo também tinha seu programa. O primeiro programa musical da emissora foi "Cláudia Querida", com a própria cantora. Depois deste a TV Bandeirantes fez muitos musicais até com Chico Buarque e Elis Regina. O que fez com que o número de shows aumentasse foi a abertura do novo Teatro Bandeirantes em 1974 (antigo Cine Arlequim, na Avenida Brigadeiro Luís Antonio). E falando em teatro, Zé do Caixão tinha seu programa teatral de terror, chamado "Além, Muito Além do Além". Depois do ontem, o hoje A Bandeirantes desde o início se preparou para apresentar uma programação de qualidade, que passasse por todos os estilos e gêneros, desde o telejornal até a dramaturgia. E hoje, aos 34 anos de idade, depois de tantas fases difíceis e outras segmentadas ("Band, o canal do Esporte") do canal, ele volta a suas origens com uma programação divido democraticamente, mesmo que tenha tirado deste projeto a teledramaturgia - mas de tempos em tempos esta vai e volta. Atualmente o grupo também não é o mesmo. Além da Rádio Bandeirantes AM e da TV Bandeirantes, ela possui a Rádio Band FM, o Canal 21 (UHF, canal inteiramente voltado para as preocupações e problemas da cidade de São Paulo.), o sistema Band Sat, a central Band Tempo, a Band Music e o canal BandNews (que nasceu em 19 de março de 2001, com distribuição pelos operadores de cabo TVA, DirecTVTM e NEO TV). A Band sempre quis dar ao telespectador um ambiente familiar entre a emissora e o mesmo. E isto não é uma filosofia somente da emissora, como do grupo inteiro. TV Leitor - Sobre a Bandeirantes ainda, um fato curioso para vocês. Aquela rixa entre Rio de Janeiro e São Paulo faz com que com os cariocas joguem chumbo em cima da Bandeirantes, por acharem que a emissora reforça e muito o fato de ser paulistana, sendo uma rede. Apesar que mesmo em rede é muito difícil um pouco de "bairrismo" não existir. Mas a Bandeirantes até que não é tanto "bairrismo" assim. Se formos comparar as emissoras paulistanas de tempos atrás e hoje, podemos concluir que a mais paulistana de todos continua sendo a TV Gazeta, que faz questão de mostrar a Paulista (que culpa a emissora tem de estar localizada na Avenida Paulista, não?). Só que os cariocas não caem em cima da Gazeta, pois até hoje ela não tem seu canal na cidade do Rio. O máximo que os cariocas conheceram dessa foram os seus programas exibidos pela CNT ("Mulheres" e "Mesa Redonda", por exemplo), canal 9. - Uma infeliz notícia foi dada esta semana, após o incêndio na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), onde funciona a primeira faculdade de Televisão do país (hoje curso de nome "Audiovisual"). Neste incêndio, que ocorreu na madrugada do dia 2 de outubro, foi destruído o 2º pavimento de um dos prédios da faculdade e dentro dele se queimou o principal acervo de estudo sobre telenovela no país, como informou a Agência Reuters do Brasil. Assim se perde mais uma parte importante da história televisiva do nosso país de forma lamentável (sem esquecer dos danos causados à USP). Esse fogo que importuna e come essa história da TV cada vez mais. Isso também se deve ao fato de os materiais da época serem mais inflamáveis que os atuais. Temos todos que tomar mais providências para evitar que o fogo não destrua nem a memória televisiva, como também não destrua outras memórias e também mate pessoas. Temos que ter mais cuidado e dar prevenção a todos os lugares, porque o fogo não avisa quem será o próximo. - Coluna dedicada aos profissionais de toda Rede Bandeirantes (do rádio à Internet), antigos e novos, aos parentes e amigos que fizeram e fazem parte deste grupo de comunicação. - Até nossa próxima atração, pessoal! Semana que vem estou de volta. E em breve traremos mais novidades no Sampa On Line! Aguardem! Imagens
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