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Mais do que um fruto ameaçado da Mata Atlântica, o cambuci representa oportunidades para a produção agroecológica, o comércio justo e o resgate da cultura e do turismo, tendo se tornado um símbolo da Rota Gastronômica do Cambuci, que já acontece há cinco anos no Estado de São Paulo. Nos próximos dias 19 e 20 de outubro, a Rota terá seu grande momento de encerramento no Mercado Municipal de São Paulo, com a presença de produtores de diversos municípios, grupos culturais e de todos os envolvidos em sua cadeia produtiva. O fluxo de pessoas do Mercadão torna-se chave para aumento das vendas e do interesse no produto.
A Rota do Cambuci combina um circuito de festivais gastronômicos em sete municípios - São Paulo, Rio Grande da Serra, Santo André, Mogi das Cruzes, Salesópolis, Paraibuna e Caraguatatuba - que se unem para o fortalecimento da importância do fruto e o investimento em um Arranjo Produtivo Sustentável, para comercialização de produtos como a polpa do Cambuci, diversificação dos cultivos e geração de renda. A 5ª edição do programa trouxe avanços positivos, como o maior número de vendas para os produtores,o aumento do conhecimento da sociedade pelo fruto e a potencial adesão de mais municípios ao programa, como Juquitiba, Ribeirão Pires e São Lourenço da Serra.
A programação deste ano tem show com a Banda Lyra, composta por músicos da região de Paranapiacaba, com mais de 70 anos de história (a apresentação acontece no domingo, 20 de outubro, às 13 horas, no Mercadão), entrega do Prêmio Cambuci de Sustentabilidade a pessoas que fazem a rota acontecer, degustação de produtos à base de cambuci como chutney, cocada, cachaça, licores e geleias, e roda de conversa com os produtores locais presentes no evento. Hoje, eles já estão se organizando para atender ao mercado de grandes cidades e ampliar a produção, que chega a 400 toneladas do cambuci in natura, por ano, no Estado.
O fruto vem ganhando espaço em diferentes segmentos, que vão de receitas elaboradas por chefs de cozinha renomados - a exemplo do chutney de cambuci de Carla Pernambuco - ao reconhecimento pelo Slow Food do cambuci como um dos produtos da "Arca do Gosto" - um catálogo mundial que identifica sabores esquecidos e ameaçados. Restaurantes como o Javali, em São Paulo, no bairro do Cambuci, já possuem pratos à base do ingrediente, e produtores locais, como o agricultor Paulo Nakanishi, de Natividade da Serra (SP), chegam a cultivar mais de 1 mil pés de cambuci em sua propriedade familiar.
Potencial e desafios
O potencial de uso do cambuci é extenso, com propriedades como a vitamina C (fruto), óleos essenciais (folhas) ou tanino (casca), podendo ser usado na alimentação, em cosméticos e em medicamentos. Por ser uma espécie nativa das vertentes da Serra do Mar Paulista, sua valorização implica em oportunidades de conservação da floresta e em modelos de produção agroecológicos, sem o uso de agrotóxicos e integrados ao meio ambiente local.
O desafio surge na disponibilização do cambuci em escala visando atender ao crescente interesse do mercado por suas utilidades. Nesse sentido, o Arranjo Produtivo Sustentável, promovido pela Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica (AHPCE) visa reunir os cerca de 80 produtores do fruto em torno de núcleos de processamento da polpa, e possibilitar que atinjam outros mercados. Ao mesmo tempo, junto ao setor de turismo dos municípios, reforçar a identidade local ligada ao Cambuci e a oferta de produtos como licores, xaropes ou geleias de cada localidade.
A Rota é coordenada pela AHPCE, está inserida no Plano de Metas da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo (RBCV) e conta com a participação ativa das Prefeituras Municipais de São Paulo, Mogi das Cruzes, Paraibuna, Rio Grande da Serra e Santo André, do Parque Estadual da Serra do Mar - Núcleo Caraguatatuba, Ecotur, restaurante Senzala e Rota Dória.