Comunicação
por Elmo Francfort Ankerkrone
Abril 20, 2001

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Graytellop, uma raridade perdida no tempo

Se você, leitor, especialista em TV ou não, do meio ou não, nunca ouviu falar em Graytellop, não se assuste. Aqui apresento esta "revolucionária" máquina utilizada no início de nossa TV. Nas palavras de meu tio Luiz Francfort "Isso em TV é mais jurássico que um Tiranossauro Rex", alguém que operou esta raridade e que nos serviu as informações sobre o pai da "fusão".

Para a época, na década de 50 ainda - início da TV Tupi - a máquina era o "supra sumo" da tecnologia, que havia sido desenvolvido pela RCA-Victor norte-americana. Sua função era a de transmitir letreiros, comerciais ou os "créditos" dos programas do então canal 3 de São Paulo. Era um aparelho de exclusividade da Tupi. Nenhuma emissora, nem antes, nem depois chegou a tê-lo. Seu apelido era "GT".

Era constituído de uma pequena e "moderna" câmera branco e preto, duas janelinhas de vidro, cada uma com uma potente lâmpada internamente, comandadas por duas alavancas parecidas com os aceleradores dos atuais jatos aéreos. A que estava posicionada para a frente, mantinha a lâmpada em seu brilho máximo; enquanto voltava para trás, ia gradativamnte apagando a luz. Se acionadas as duas alavancas ao mesmo tempo, uma para a frente e a outra ao contrário, uma janela ia se iluminando à medida que a outra escurecia. Os resultados disso eram percebidos na tela da TV...Enquanto um letreiro ia escurecendo o outro ia aparecendo. Aí nascia no Brasil o que chamamos até hoje de fusão. (à direita, visão frontal do Graytellop. Desenho de Elmo Francfort, baseado na descrição e rascunho feito por Luiz Francfort. Arquivo pessoal, 2000).

Graytellop vem das palavras inglesas "Gray" (cinza) + "Tellop" (tela) : a tela cinza, que mal aparecia entre um slide e outro. Digamos que fusão é o mesmo que graytellop.

Imaginem como isto era revolucionário na televisão mundial daquela época? Só que todo trabalho pioneiro tinha suas dificuldades: os cartazes, de aproximadamente 15 x 10 cm eram desenhados a mão e as letras eram aplicadas uma a uma, utilizando a famosa e tradicional "letraset". Um dos grandes "vinheteiros" do Graytellop, que desenhava nos cartões opacos o indiozinho do canal, era Mário Fanucchi, que anos depois iria dirigir a TV Cultura, quando esta pertencia aos Diários Associados. Mário Fanucchi fazia os slides na sede dos Associados, na Rua 7 de Abril, 230 e depois mandava-os para o Sumaré.

Luiz e os demais funcionários do Departamento de Projeção só adquiriam o direito de operar o revolucionário Graytellop, depois de serem aprovados pelo chefe Tetsuya Watanabe e era encarado quase como um prêmio! Mais do que este prêmio, só mesmo dar a oportunidade de estar comandando as câmeras, frente a frente com os grandes atores e trabalhando ao lado dos famosos diretores (esta história fica para outra coluna). Meu tio Luiz contou que os funcionários em geral tinham inveja de Wilson Menin e de Ênio, os dois "titulares" da máquina. E ele completa a idéia dizendo que: "Hoje, o fabuloso Graytellop, não passa de um empírico brinquedinho mecânico!"

Ali Luiz Francfort avançava mais uma etapa da vida: primeiro foi para a projeção da TV Paulista, depois foi contratado pela Tupi em 1954, foi para projeção e chegou ao Graytellop, que até hoje lembra-se saudoso da máquina.

Na hora do enguiço

Meu tio não foi o único que saiu da TV Paulista. Na mesma época, Antonino Seabra, seu diretor na outra emissora foi contratado pelos Associados para ser "diretor de TV" (nome dado aos "diretores de imagem" na época, um dos primeiros do Brasil, aliás).

Certa vez, no telecine da Tupi, Seabra chamou pelo interfone Wilson Menin:

- Menin, solte rápido um "Veja o Brasil"!

Wilson Menin, olhando o slide do programa em questão, diz ao diretor:

- Rebobinado, só tem aquele que foi há meia hora atrás.

Ainda pelo interfone, Seabra responde:

- Não tem outro jeito. A coisa enguiçou no estúdio!

E assim foi para o ar, mais uma vez, o "Veja o Brasil". (à direita, slide-título da série de filmes "Veja o Brasil", composto para o Graytellop, pertencente ao livro "Nossa Próxima Atração - O Interprograma do Canal 3"), desenhado (e escrito) por Mário Fanucchi. Década de 50. Arquivo pessoal do autor).

Do interior para o sucesso

Até, mais ou menos 1950, boa parte da família Freitas Francfort iam há Serra Negra (SP) e se hospedavam no Hotel Santos. O Hotel Santos - esquina da praça da matriz Nossa Senhora do Rosário (Praça Lourenço Franco de Oliveira) com a Rua Prudente de Moraes - tinha como proprietário Levy Menin e Dona Adélia Menin. Iam entre oito a dez pessoas para ocupar o hotel.

O Senhor Levy - que dormia em um dos quartos da frente, empresta a nossa família o cômodo e ia com a sua para os fundos do hotel. Era um clima bem familiar entre hóspedes e proprietários. No Hotel Santos, além dele e de sua mulher, os três filhos ajudavam: Arlete, Walter e Wilson.

Anos depois, chegado Luiz na Tupi, se deparou com uma surpresa... Voltou para casa e veio contando a família que o Wilson, o garoto do hotel, tinha vindo para São Paulo também atrás da fascinante televisão. Assim vocês percebem que a paixão da TV é independente de local, tempo e condições. Wilson Menin, ora um garçom, ora o titular da projeção das Associadas.

Infelizmente o Hotel Santos foi demolido e lembranças se perderam em 50 anos. Não sabemos nem o paradeiro de Wilson, nem de sua família. Hoje encontram-se, no lugar do Santos, uma galeria e um estacionamento. Defronte a ele, o antigo Hotel Vitória, hoje Vitória Marchi, é um dos únicos hotéis que restaram daquela época.


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