Comunicação
por Elmo Francfort Ankerkrone
Abril 27, 2001

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O bravo ' Vigilante Rodoviário'

Quem já ouviu falar do Vigilante Rodoviário? Ou quem ao menos viu o Vigilante em algum especial de 50 anos de TV? Ou quem sabe você seja do tempo deste herói brasileiro (o mais querido de nossa televisão)? Pois é sobre o Inspetor Carlos e seu fiel amigo Lobo que falaremos esta semana. (NR: à direita, cartaz do filme "Vigilante Rodoviário", de 16 mm. Cartaz pertencente ao fã-clube do Vigilante Rodoviário).

Para quem não sabe, o Vigilante Rodoviário foi a primeira série brasileira filmada em película de cinema! Naquele fim de década de 50 e início da de 60, a televisão ainda vivia seu tempo do "ao vivo", sem a ajuda do vídeo-tape. E seguindo a idéia dos enlatados americanos, desenhos e filmes que eram gravados em películas cinematográficas surge a idéia de fazer esta grande superprodução da TV Tupi. Gravaram 38 episódios mais 4 filmes, que faziam parte destes 38, só que com cenas novas para exibições futuras. Com isto, o Vigilante Rodoviário foi o primeiro seriado criado para televisão brasileira e da América Latina, não perdendo para as produções 'westerns' americanas. Uma série 100% brasileira, no tema e nos demais segmentos que possam existir para o gênero. A série tinha também sempre o uso adequado da força do Vigilante, sem abusos policiais.

A série começou a ser produzida e foram convocados 150 candidatos para o papel principal, nenhum foi aprovado. Porém, para não perderem o desafio que a equipe tinha se metido, o diretor de produção da Tupi, Carlos Miranda (que também estava auxiliando na seleção dos atores), resolveu apostar em si mesmo para garantir o futuro da série. E assim, com seu porte atlético, seu jeito simpático e muito animado, fez com que a idéia da série não fosse engavetada. Carlos Miranda não esperava o sucesso que teve com seu personagem, foi um tiro no escuro...que acertou no meio do alvo! Mas tudo tinha que ter um fundamento: se ele precisava se portar como um patrulheiro rodoviário, então ele tinha que se basear em algo... Foi assim que em 1959 ele ingressou no Curso de Formação de Policial Rodoviário, em Jundiaí (SP). (NR: à direita, o brasão da série Vigilante Rodoviário - TV Tupi (1961)).

No final de 60, depois de apresentado o piloto da série à 20 agências para patrociná-la, só uma apoiou a idéia da TV Tupi: a Nestlé do Brasil. A posse de Jânio dias depois de assinado o contrato fez com que a verba de Nestlé não fosse suficiente, já o mesmo estipulou uma lei taxando os produtos importados em 400%. O problema aconteceu porque a série era quase toda feita com importados. Isto fez com a que série custasse dez vezes mais que as estrangeiras em termos de produção.

Da rodovia para televisão

Para que ele não ficasse sozinho na série e tivesse companheiros em suas buscas, criaram o personagem Lobo, um cão pastor alemão (que tinha na realidade o nome de "King"), o mais fiel amigo do Inspetor Carlos Miranda. (NR: à direita, cena da série Vigilante Rodoviário, com Inspetor Carlos Miranda na frente do Simca Chambord, com Lobo à esquerda. TV Tupi (1961)).

E como um patrulheiro precisa correr rápido pela estrada quando vê algum problema ou infração, deram a Carlos mais dois "amigos": sua moto policial Harley Davidson e seu inconfundível carro Simca Chambord, todo pintado de amarelo e preto.

E com este time e o patrocínio da Nestlé, a série começou a ser exibida em março de 1961, na TV Tupi de São Paulo, as 20h de todas as quartas feiras, após o telejornal Repórter Esso. No Rio de Janeiro às quintas-feiras, sempre no horário nobre. Interessante ressaltar que pela inexistência do sistema em rede para a televisão, fazia com que a fita viajasse, literalmente, de uma filial para a outra, sempre dentro das Emissoras Associadas. A série foi filmada até 1962, quando a Nestlé cancelou o patrocínio. Antes disso, revelou à TV brasileira nomes com Stênio Garcia, Ary Fontoura, Fúlvio Stefanini, Rosa Maria Murtinho, Milton Gonçalves, Ary Toledo, Juca Chaves e muitos outros.

Mesmo com o fim do patrocínio e da produção da série, as reprises batiam grandes programas da época, sempre dando pontuação máxima ao seriado infanto-juvenil. Entre as décadas de 60 e 70, a Tupi foi responsável pela reprise, depois caiu nas mãos da TV Cultura e em sua última "aparição", a Rede Globo a comprou, exibindo até 1976.

O futuro do Vigilante

Acabada a série, o ator Carlos Miranda passou a fazer parte da polícia militar. "Aposentado", o cão King (Lobo) não teve mais nenhuma participação dentro da televisão, morrendo em 1965. Foi neste mesmo ano que Carlos ingressou na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo, só saindo em 1988, indo para a reserva como Tenente-Coronel.

Existe o projeto hoje em dia de voltar a produzir a série, com outro ator, já que Carlos já está aposentado, com 65 anos. Só que da mesma forma que antes, a série não consegue uma agência para bancá-la (nem a Nestlé pensa nisso?) Além deste detalhe, Carlos Miranda conseguiu recuperar um dos automóveis usados na série, repintou-o e recolocou o brasão da corporação na porta, deixando-o como antigamente. O carro é levado a feiras automobilística, com o Inspetor Carlos ainda à caráter, para reviver o seu grande herói. Sua Harley hoje pertence a um colecionador de Bebedouros (SP). (NR: à direita, o "senhor" Carlos Miranda com seu Simca Chambord restaurado. Foto tirada pelo fã-clube do Vigilante Rodoviário, 1997).

Além de tudo isto que disse, gostaria de contar a vocês sobre um fato curioso! Mesmo que a série tenha sido exibida até 1976, a série Vigilante Rodoviário não morreu para muita gente. Hoje em dia, o fã-clube da série Vigilante Rodoviário é um dos maiores do Brasil, espalhados por diversas partes do país e com cultuadores da série, que se reúnem e dão ao ator Carlos Miranda, cada vez mais, a certeza de um dever cumprido, de ter educado milhares de crianças por décadas. E para os interessados, deixo aqui o endereço do fã-clube na Internet, além de agradecer pelas informações que o Doutor Lambros Katsonis, um dos líderes da instituição, nos deu para deixar mais completa esta "biografia" da série.

E para encerrar, não podíamos deixar de lado uma das maiores lembranças dos telespectadores apaixonados pelo Vigilante. Abaixo, o "Hino do Vigilante Rodoviário", que em 1983 foi regravado pelo grupo Joelho de Porco, em um luxuoso albúm duplo "Saqueando a Cidade", trazendo uma versão em rock do tema da série.

Hino do Vigilante Rodoviário (1959)

"Vigilante! ... Rodoviário! ...

De noite ou de dia,
firme no volante,
vai pela rodovia,
bravo Vigilante.

Guardando toda a estrada,
forte e confiante
é o nosso camarada,
bravo Vigilante.

(Repetir a 1ª parte assobiando)

O seu olhar amigo,
é um farol que avisa o perigo,
audaz e temerário
prá agir a cada instante
da estrada é o Vigilante,

Vigilante! ... Rodoviário! ..."

Quem dera de São Paulo fosse protegido e seguro como todos que tiveram a proteção do Vigilante. É nestas horas que temos que apelar para ficção e sentir "saudades" de um tempo em que polícia tinha com segurança total, a proteção dos cidadãos paulistanos...e brasileiros. Onde está você, Vigilante?

Imagens

 

 

 


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