Comunicação
por Elmo Francfort Ankerkrone
Fevereiro 23, 2001
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Folia na
telinha
Esta semana, em ritmo de carnaval, falaremos sobre
momentos sensacionais dos carnavais da televisão brasileira.
É bom lembrar que no começo dos grandes carnavais,
antes da existência dos sambódromos Visconde de Sapucaí e o Anhembi, as festas eram
feitas na rua. E os carros alegóricos ainda eram pequenos, perto dos que hoje existem.
Quando começaram a ser televisionados, as imagens eram totalmente em preto-e-branco.
Quando as cores chegaram, os sambódromos já existiam.
A Tupi entra na avenida
Em 1951, pouco tempo depois da inauguração da
segunda emissora de TV do Brasil, a "PRG-3 TV Tupi" (canal 6 do Rio de Janeiro),
a Tupi de São Paulo havia mandado sua U.M. (unidade móvel) para que eles gravassem o
desfile de carnaval de rua, que lá existia. Assim, ao transmiti-lo, acabariam levando a
festa até para a casa dos mais granfinos, que se recusavam a participar daquela festa
popular (será que algum deles tinha vontade de participar?). Chateaubriand nem havia
pensado nesta hipótese, mas simplesmente era a mais provável de tal época, já que em
51 os aparelhos de TV eram muito caros e só as pessoas de enorme poder aquisitivo
poderiam possuir um. Ainda mais os granfinos e os políticos que rodeavam o Rio de Janeiro
continuamente, já que lá era a capital brasileira da época.
Já, na década de 60, com a concorrência
televisiva cada vez maior, quase todos os canais transmitiam o carnaval carioca. Já o
paulista era algo muito pequeno, quase inexistente. E cariocas sempre quiseram fazer
questão de que os nossos carnavais não são nada perto do deles - fator que hoje sim é
o "inexistente", vide a briga do carnaval de 2000, que o prefeito do Rio, Luiz
Paulo Conde, e o governador daquele estado, o Antony Garotinho, ficaram discutindo uma
questão mesquinha, trocando ofensas entre eles e a liga, desvangloriando os feitos do
nosso carnaval...Isso tudo, enquanto problemas com a população pobre, naquela semana,
ficavam a rondar a prefeitura...e o governo, é claro! Mas devemos deixar este assunto de
lado, já que se trata de um vergonhoso capítulo no período carnavalesco.
Nos anos 60, na Tupi-Rio também, Emilinha Borba
tinha um programa chamado "Festival de Músicas para o Carnaval", com João
Roberto Kelly.
Nos anos 80, a TV Cultura redescobria o carnaval,
sendo a primeira a transmitir o carnaval paulistano! Com uma ampla cobertura gravou todo o
nosso carnaval, que acontecia na Av. São João, garantindo à emissora caráter comercial
exclusivo para transmitir os carnavais de São Paulo. O Anhembi nem existia ainda!
Aconteceu, virou
Manchete
Em junho de 1983, nascia a Rede Manchete, comandada
pelo canal 6 do Rio de Janeiro (no lugar da Tupi-Rio, que havia falido em 1980), enquanto
aqui, era o canal 9 (uma estréia que para os paulistas seria uma momento de espectativa,
já que este canal estava 13 anos fora do ar, desde a falência da Rede Excelsior). O que
esperavam é que ela realizasse uma programação de qualidade, fora do normal... Até
que, inicialmente, ela teve suas novidades colocadas à mostra, mas ela esperou o momento
certo para mostrar ao povo brasileiro que tinha ótimos aparelhos e recursos para se
tornar a Rede Manchete que todos gostariam e esperavam ver. É sobre este grande momento
que aqui falo.
Por trás da Manchete, estava...a Revista
Manchete! - famosíssima criação dos Bloch, fundada em 1952 e responsável por ter
derrubado e roubado o público da célebre revista O Cruzeiro, dos Associados. A
primeira tinha como lema: "Aconteceu, virou Manchete..." e tinha o
carnaval como o seu foco mais forte em cobertura jornalística, e de entretenimento, da
época. Sabia o que estava fazendo, além de sempre publicar, desde essa época, um
caderno à parte, que tinha o samba-enredo das escolas de samba para o povo cantar junto
com os sambistas, nas transmissões carnavalescas pela televisão.
No primeiro bimestre de 1984, a Globo mal se
preocupava com o carnaval como as demais emissoras. Naquele ano ela resolveu dar
exclusividade ao Rio de Janeiro e esquecer dos carnavais de São Paulo, já que a Cultura
o fazia. Mas aquele ano, nem mesmo a Cultura estava preparada para o nascimento de um novo
estilo de transmissão carnavalesca de São Paulo e nem mesmo a Globo pensava que no Rio
ela iria ter sua audiência garantida somente com flashs da festa.
A "pequena" Manchete então, naquele
carnaval, fez um acordo com a "grande" Globo só para que ela pudesse
transmitir, com exclusividade, o fato. Mal sabia a Globo o que esperava, só continuou com
a antiga idéia dos flashs... Aliás, é bom lembrar que na concepção da Globo, ela
deveria estar pensando algo do tipo:"- Fiquemos com os flashs só. Vamos deixar a
íntegra pra essa emissora pequena mostrar. Eles precisam de audiência, mas os melhores
lances a gente mostra. Deixa eles se divertirem, são novos no ramo." - Mas as coisas
não eram como todos pensavam...
Na época, a Manchete foi até boazinha, e boba, na
hora de dividir os custos, já que ela equipou toda a avenida representando ela e a Globo,
na exclusividade da transmissão. No final, a Manchete pagou metade e a Globo idem. Mas
não cobraram nada do plim-plim pelo serviço de mão-de-obra e pela preparação do
sambódromo. Uma trabalhou com muito ardor, enquanto a outra só bancou no final. Quem
sabe assim a Manchete tenha encobrido a maior surpresa do carnaval?
No dia D, Globo, com os flashs, viu
sua audiência caindo aos poucos. Ela não entendeu bem o por quê e resolveu assuntar. A
Manchete havia colocado suas U.M.s na avenida, todos com seus links direcionados para
emissora, além de quase todo novo equipamento, com efeitos especiais, assustando qualquer
um que visse pela primeira vez o enorme M no meio do sambódromo. Nascia assim a nova Rede
Manchete, aquela que todos esperavam. A mesma que assustou a Globo com a Xuxa, com a
Angélica, com a Dona Beija, com Pantanal, com...nossa, quantas pedras no sapato! Naquela
semana, a Manchete finalmente mostrou-se por inteiro. Além disso, junto com sua
transmissão, na íntegra, e os flashs nos meios dos comerciais, sempre que conseguia
uma brecha investia nas entrevistas nas matinês e festas carnavalescas famosas, sendo que
uma delas era o Gala Gay (que depois de um tempo, virou marca da Manchete a
dobradinha entre Gerson Brenner entrevistando o travesti "Roberta"). Sem
esquecer de outro grande sucesso da emissora, o Concurso de Fantasias do Hotel
Glória, no Rio de Janeiro - quase sempre apresentado pelo Ronaldo Rosas, Jacira
Lucas, Augusto Xavier (nos últimos anos) e tendo a presença de Clóvis Bornay
constantemente desfilando suas fantasias no concurso.
A partir de 1984 a Manchete revolucionou as
transmissões carnavalescas, sendo que, até falir, era destaque nesta época. Sinto
saudades dos carnavais...da Manchete. Esta que, enquanto a Globo passava até a 3ª
divisão das escolas de samba do Rio de Janeiro, se preocupava em cobrir sem parar o
carnaval de São Paulo. A partir daquele ano, a Globo aprendeu que não pode se brincar
com fogo e que tinha que modificar o estilo de suas transmissões carnavalescas. É esta
uma das causas dela pedir para Hans Donner criar um símbolo para o carnaval, cujo nome
seria "globeleza". Assim, surgiu, no rosto e na ginga da modelo Valéria
Valença a "mulata globeleza", sob as músicas:
"Lá vou eu,
Lá vou eu...
Hoje a festa é na avenida.
No carnaval da Globo,
Hoje eu tô de bem com a vida... Lá vou eu!
(...) Na tela da TV,
No meio deste povo,
A gente vai se ver
Na Globo..."
Chão escuro não dá
Gostaria de lembrar de um fato familiar. Na época,
o diretor administrativo da Rede Manchete, em São Paulo, era Luiz Francfort, meu tio.
Este pediu que pintasse o chão do sambódromo, como o do Rio de Janeiro: totalmente
branco. Antes o chão era quase preto - uma cor meio grafite, porque era feito de
concreto. O diretor notou este detalhe e pediu que mudassem logo aquela cor, porque assim
as imagens sairiam mais perfeitas e nítidas do que anteriormente, dando um maior
contraste entre os sambistas e o chão do sambódromo.
Silvio Santos vem
aí...
É fato que em carnavais, homenagens sejam feitas,
onde muitas vezes pessoas da televisão são alvo das escolas de samba. Alguns dos
homenageados foram Assis Chateaubriand, o fundador da TV no Brasil, em 1997; Os
Trapalhões e até mesmo a própria televisão. Isto conforme Ricardo Xavier (o Rixa,
produtor do Video Show / Rede Globo), que em seu livro "Almanaque da TV",
descreve o desfile de 1º de março de 1992, quando a fluminense G.R.E.S. Beija-Flor lançou
o enredo "Há um ponto de luz na imensidão", de Joãozinho Trinta,
Dinoel Sampaio, Itinho e Neguinho da Beija-Flor. E o refrão da melodia era:
"Um ponto de luz surgiu, oi
Na magia desta invenção
Descortinando o infinito
Preto-e-branco ou colorido
É a imagem na televisão
(...) Olê-leô, vamos cantar
É a TV anunciando
A Beija-Flor está no ar..."
Este ano a Globo tem outra pedra no
sapato... A G.R.E.S. Tradição preparou a surpresa de elogiar o seu maior rival:
Silvio Santos. Há brigas e leis por trás desta decisão da Tradição, em lançar o
samba-enredo "O HOMEM DO BAÚ, Hoje é Domingo, Dia de Alegria, Vamos Sorrir e
Cantar" (de Lourenço e Adalto Magalha, interpretado por Celino Dias). A escola
falou que não irá exibir o nome do SBT, em hipótese alguma... Mas o
"mershanding" indireto do SBT estará presente, já que confirmaram a
participação de muitas atrações do canal 4, como Hebe Camargo, Gugu, Ratinho e Silvio
Santos (é claro!). Vamos esperar para ver este cômico episódio da televisão
brasileira.
E aqui embaixo, esta a letra do
samba polêmico da Tradição. Enquanto vocês o lêem, ouçam a surpresa que preparei: clique aqui para
ouvir trechos deste samba-enredo.
"Olha que glória, que
beleza de destino
Pra esse menino Deus reservou, ô ô
Ele cresceu, ele venceu, vive sorrindo
Com muito orgulho, foi camelô
Nasceu na Lapa
No Rio de Janeiro
Esse artista é o enredo da nossa Tradição
Foi do rádio, minha gente
Hoje na televisão, oi, patrão
Faz o dia mais contente, a alegria do povão
Qual é o prêmio Lombardi, diz aí
Qual é a música quem sabe, canta aí
Quem quer dinheiro?
O aviãozinho vai subir
Minhas colegas de trabalho
Que beleza de auditório
Abre a Porta da Esperança
É Namoro na TV
Boa Noite, Cinderela
Gosto de você
Em Nome do amor,
Eu quero morrer de prazer
Laiá, laiá, oi
Laiá, laiá, oi
É um baú de felicidade
Vamos cantar
Vamos brincar
Vamos sorrir
É domingo, é alegria
Sivio Santos vem aí..."
Bem, pessoal, vou ficando por aqui.
E espero, que todos aproveitem o carnaval... sem abusos, hein! O que vale é a festa, não
a ressaca e outros "efeitos colaterais" causados por indisciplina e
irresponsabilidade, pessoal. Não sou Ministério da Saúde, nem da Segurança, mas deixo
aqui o alerta... Vamos ficar só na folia! Até semana que vem!
Créditos
- Capa do encarte de carnaval da Revista Manchete, 1998.
Arquivo Bloch Editores.
- Imagem da Rede Manchete, impressa no encarte de carnaval da
Revista Manchete, 1998. Desfile da Nenê da Vila Matilde, no sambódromo do Anhembi
(SP). Arquivo Bloch Editores.
- Valéria Valença, a globeleza, versão 2001. Arquivo CEDOC
/ Divulgação - Rede Globo.
- Logotipo do SBT na época do carnaval de 2001, quando Silvio
Santos tornou-se enredo da Tradição. / Divulgação - SBT.
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