Televisão
por Elmo Francfort Ankerkrone
Junho 22, 2001
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A Hora do 'Almoço'

Nesta semana falaremos de um programa, que se não fosse pelos problemas que enfrentou no seu final, hoje bateria recorde de permanência no ar como o Programa Hebe. Ou melhor, não falaremos de um programa, mas sim de dois e com dois apresentadores. Com vocês, "Almoço com as Estrelas" e "Clube dos Artistas", com o casal Lolita e Airton Rodrigues.

"Almoço com as Estrelas" era apresentado todos os sábados, das 13 às 15 horas. E "Clube dos Artistas" nas noites de sexta-feira. Ambos por toda história da Rede Tupi, passando depois pela Record.

O casal ficou tão popular, que quando a Tupi se tornou rede, optou descartar os demais programas homônimos do Brasil e só colocar Lolita e Aírton para serem o casal principal da atração - agora para todo Brasil.

Comendo em família

"Almoço com as Estrelas" nasceu em 1956 na TV Tupi de São Paulo, com J. Silvestre no comando. Na Tupi-Rio Aerton Perlingeiro era o apresentador do mesmo programa. Em pouco tempo tudo mudaria, sendo que o principal, nascia às câmeras o maior destaque da atração: o casal Aírton Rodrigues e Lolita, sua esposa e ótima dançarina de dança flamenca, que assumiriam o lugar de J. Silvestre em São Paulo. Seus primeiros entrevistadas foram as cantoras Linda e Dircinha Batista.

Falando um pouco das origens deste programa, a idéia nasceu de um programa de rádio na Argentina, onde as pessoas comiam e eram entrevistadas, mas ninguém via. Antes de ir para a TV, Airton Rodrigues já apresentava este programa na Rádio Tupi.

O casal almoçava com os convidados, em uma mesa em formato de U. Sempre começavam os programas na parte centra da mesa (que no desenho está mais escuro), sendo que Aírton ficava à esquerda de Lolita - na visão de quem está assistindo o programa pela TV (à direita, cenário do "Almoço com as Estrelas", desenho feito pelo colunista baseado nas descrições de sua família. (2001)).

Quando existia uma atração musical, esta cantava no centro interno do "U" da mesa. Ainda neste lado interno, Lolita e Aírton andavam entrevistando os convidados que comiam, sem esquecer que o espaço também era dividido pelos câmeras. O casal também andava pelo lado externo do U, passando para os convidados o microfone da mesma forma como os garçons servem os pratos.

Outro ponto comum do programa era quando serviam a pintada na brasa e a maionese, da Cantina do Ciclio - um merchandising que faziam quase todas as semanas.

Uma herança da Tupi

E o Clube dos Artistas nasceu depois do "Almoço...". Este nasceu no Rio de Janeiro com Lourdes Mayer, que com seu sorriso e simpatia conquistava o público da TV Tupi. Em São Paulo Lolita e Airton Rodrigues tomaram conta da atração, inicialmente apresentado por Homero Silva e Márcia Real.

Assim como no "Almoço com as Estrelas", o "Clube..." também possuía comida para os convidados. Um palco no meio era rodeado por diversas mesas redondas, onde os convidados se deliciavam com as refeições servidas pelos garçons da Rede Tupi. Lolita e Aírton, assim como em seu outro programa, falavam das novidades que os convidados tinham, suas opiniões e perguntas típicas de um programa de entrevistas, com puro entretenimento. A idéia era dar aos convidados, nos dois programas, um ambiente caseiro. No "Clube dos Artistas" o casal andavam de mesa em mesa, sendo que a mesa que ficavam em linha reta com o centro do palco era a que o casal começava a apresentar o programa, onde também descansavam e comiam. Este tinha rodadas de pizza, principalmente. E ia entre 80 à 100 artistas em cada programa! (à direita, cenário do "Clube dos Artistas", desenho feito pelo colunista baseado nas descrições de sua família. (2001)).

Um programa na outra extremidade do palco, onde não existiam mesas ao redor, era utilizado pelo casal e pelas atrações musicais. Apresentações também eram feitas neste palco.

Foi no "Clube dos Artistas", de graça, que com a música espanhola Manuela, se revelou para vida artística um "tal" de Julio Iglesias, que foi aplaudido por todos - convidados, equipe técnica, apresentadores - por volta das três da madrugada. Foi sua primeira aparição na TV em todo o mundo. O sucesso veio em seguida, aos poucos.

O fim de uma Era

Nos último ano da Tupi, em 1980, os profissionais da Tupi fizeram uma grande festa de 25 anos dos dois programas apresentados pelo casal. Foi uma festa enorme, com direito à homenagens e recordações dos primeiros programas de Aírton e Lolita.

Com o fim da Rede Tupi, Silvio Santos - que apresentava seu programa simultaneamente pela Tupi e pela Record (da qual ainda era dono na época) convidou o casal a continuar os dois programas na sua emissora. E foi feito um contrato de 1980 à 1985 para permanência do programa na Record.

É importante lembrar que o programa continuou ter seu público cativo e convicto, apesar que muitos, assim como com o Programa Hebe, deixaram de vê-lo para assistir a outros canais - fortalecendo até mesmo a Globo nisto e sua teledramaturgia. Muitos até hoje consideram os dois programas dos casais e o de Hebe, como a pura "mesmice tradicional", num formato não muito flexível.

Só que depois de muitas brigas o casal se separa em 1982. E Silvio vê que o Airton e Lolita, agora juntos pelo contrato, não consegue mais mostrar aos telespectadores a simplicidade e a alegria natural que possuíam. Silvio Santos decide então conversar com os dois e disse que iria pagar o contrato dos dois até o final de 85, contanto que eles ficassem em casa e não dessem aos telespectadores aquela imagem crítica, que quebrava com a alegria que prevaleceu por décadas na televisão brasileira. Era o fim do casal e do programa.

Anos depois, no início da década de 90, Airton Rodrigues - sem Lolita - voltou a apresentar os dois programas em uma TV educativa no interior de São Paulo, fazendo-o até sua morte. Lolita se afastou da televisão e só na metade da década de 90 começou a dar as caras, somente em novelas e minisséries. Hoje se alterna entre Globo, SBT e Record nas suas teledramaturgias.

Os dois volks

Meu pai, Antonio Ankerkrone, apesar de nunca ter trabalhado em TV e mesmo com boa parte da família lá dentro, teve também seu momento neste meio. Não teve como escapar, graças a Deus! Entenderam agora o porquê deste "graças à Deus"...

Agora invadindo a coluna da Nereide Schilaro Santa Rosa, que escreve "As Memórias de Dona Guiomar" um pouco da história do nosso querido Itaim Bibi.

Certa vez, no primeiro semestre de 1972, meu pai se inscreveu no Concurso Ciabra-Consorte, muito famoso na época. Fez sua "fézinha" para concorrer à dois fuscas, no valor de 26.000 cruzeiros (velhos). E tempo depois, em maio, deu no jornal os números que ele havia escolhido para concorrer! Foi uma felicidade geral aqui em casa.

Foi até o Ciabra, comprovou que era o ganhador e, conforme as normas do Consórcio, pagou mais 4.000 cruzeiros para ganhar os dois volks. Talvez por causa desta cláusula o Ciabra-Consorte tenha falido, já que por algumas vezes ganhadores de concursos não levaram seus prêmios, por não pagarem esta taxa da diferença.

E os programas de Lolita e Airton Rodrigues eram patrocinados pela Ciabra-Consorte e foi desta forma que anunciariam o ganhador dos dois volks.

Ele foi para os estúdios do Sumaré, na Alfonso Bovero, como a equipe e o Ciabra haviam combinado. Meu pai compareceu na sexta-feira ao "Clube dos Artistas", enquanto a família assistia em casa o programa. E retornou no sábado ao "Almoço com as Estrelas", indo um pouco mais cedo que minha mãe para o Sumaré - esta que depois ficou no auditório do programa, enquanto meu irmão Arthur (na época com apenas 2 anos) ficou em casa sendo cuidado pelos meus avós. Assim Antonio foi entrevistado pelos dois apresentadores, que queriam saber como ele se sentia por ter ganho os dois volkswagen-72.

Dias depois, exatamente em 20 de maio de 1972, com faixas e tudo mais, os dois volks chegavam ao Itaim Bibi, enquanto o povo parava na rua para ver o que acontecia. E com caixas de som sobre o carro, o Consórcio entrou no bairro, gritando:

- "O Consórcio Ciabra Consorte está entregando mais dois carros, ao sorteado Doutor Antonio" - e repetia a gravação diversas vezes. Fazendo assim com que todos na rua reparassem mesmo! Fizeram um escândalo por todo Itaim Bibi, digno de palanque eleitoral.

Entrou na Rua Tabapuã e parou na esquina da Rua Urussuí, no prédio onde minha família morava na época - número 665, que até hoje está lá, com a mesma cara que tinha na época. E foi lá ele receber os carros, enquanto meu avô Julio Francfort, na sacada do primeiro andar, tirou a foto que vocês aqui estão vendo (à direita,  foto de Antonio Ankerkrone recebendo os 2 volks da Ciabra-Consorte. Antonio é o que está de frente. Arquivo pessoal, tirado por Julio Correia Francfort (20/05/1972).

TV Leitor

- Ao colega e leitor Luiz Fernando Bindi (aquele que toda hora acabo invadindo a coluna "sem querer querendo"!) escreveu dizendo: "Como sempre, artigo muito gostoso de se ler.Sobre comida na TV, cresci assistindo Almoço com as Estrelas, Ofélia e Forno, Fogão e Cia. Bons tempos...". É, Luiz Fernando, por coincidência a coluna desta semana tratou de um dos seus programas prediletos. Esta que era para entrar no ar semana passada, mas tive que deixá-la para esta. Colidiu com sua mensagem. Agradeço pelo elogio! Futuramente Ofélia Anunciato será um dos programas que abordarei e contarei sobre um dos últimos programas dela na TV. E sobre a continuação de sua carta, falarei sim sobre a TV fechada, que concordo contigo que também não tem só coisas boas. Só que é mais fácil começar pela TV aberta e depois ir para a fechada, já que o número de canais abertos só são 7, enquanto na fechada...Xiii...Mas fique tranqüilo. Não irei deixar de lado.

- O que tenho recebido de cartas anônimas não é brincadeira. Pessoal, não tenham medo de se identificarem. Não mordo...he... Acho legal quando vocês completam o porque de terem gostado e até mesmo as sugestões e críticas. Críticas? Sim! Porque no fundo eu acabo levando-os para o lado construtivo, para aprimorar minha coluna ao gosto do leitor. Lembram-se quando disse que a idéia desta coluna é servir de controle remoto de assuntos para vocês. É hora de opinarem. Conto com o apoio de vocês!

- Um abraço ao leitor Eduardo Furtado, que mesmo não gostando muito do programa que explicitei nesta coluna hoje, continua sempre escrevendo e debatendo suas idéias sobre a televisão atual.

- Dedico esta coluna a meu amigo gaúcho Marcel Britto de Freitas, que sempre lê esta coluna também e que esta semana tive o prazer de conhecer pessoalmente. Abraços, guri!

No mais popular jargão do Jornal da Manchete, "fique com a gente"! E até nossa próxima atração!

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