Televisão
por Elmo Francfort Ankerkrone
Junho 29, 2001
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TV Ano 60

Se vocês, leitores, pensam que hoje falaremos de uma possível previsão de como será a televisão daqui uma década, quando esta completará 60 anos, saiba que é um engano. O assunto desta semana é algo totalmente diferente, algo que a maioria dos historiadores considera errado: enumerar uma data para justificar uma grande mudança no mundo, mesmo que seja o mundo televisivo. Falaremos de 1960, o ano que fez a televisão mudar de rumo e que fez esta começar a moldar a televisão avançada de hoje. A seguir, apresentaremos por meio de tópicos as mudanças da "TV Ano 60".

Aparelhos

A partir de 1960 já possuía no Brasil 621.919 televisores, multiplicando por quase 622 vezes o número de televisores existentes em 1950, quando a televisão surgiu no Brasil. O mundo batia o recorde de 100 milhões de aparelhos televisivos.Deixava claro que a televisão tomou conta da força que antes pertencia ao rádio.

Campanhas

Em 60 aconteceu o primeiro "pool" de emissoras de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte para a primeira campanha assistencial do brasil, com a "Noite da Solidariedade", ajudando as vítimas da enchente em Óros, localizada na região nordeste. A primeira campanha beneficente foi da TV Paulista, em 54, para angariar fundos para a produção cultural do filme "Floradas da Serra".

A origem do VT

A TV Continental faz seus primeiros testes em 1959, mas só em 1960 o videotape torna-se obrigatória nas produções comerciais da TV. Assim, o teleteatro "Hamlet", da TV Tupi de São Paulo inaugura oficialmente as atrações gravadas em Ampex, em setembro. Naquele ano ainda a Excelsior (recém-estreada) e a TV Rio também compraram seus VTs. Leia mais no artigo "O VT inverte a TV".

Luto e dívidas televisivas

No final da década de 50, próximo ao ano de 60, a Organização Victor Costa vende a concessão do canal 9 de São Paulo ao Grupo Simonsen, que logo fundaria a TV Excelsior. Com problemas sérios de saúde, em 1960, morre o fundador Victor Costa e os filhos do radialista começam a se perder com a herança gerada pela Organização Victor Costa. Aos poucos a programação cai em produção e de qualidade. Começam a pensar na idéia da venda de toda organização e a quitação de dívidas. O declínio da TV Paulista, da Rádio Nacional de São Paulo e a do Rio de Janeiro, além da Rádio Excelsior são resultados da divisão de bens dos herdeiros de Victor Costa. O Jornal O Globo se interessa pela organização, comprando-a no final de 1965, antes que falisse e fosse cassada a concessão da TV Paulista. Assim nasce a TV Globo de São Paulo, em 1966.

TV Excelsior

Como já dissemos em 1960 nasceria o canal 9 de São Paulo, a TV Excelsior, que foi comprada da Organização Victor Costa pela família Simonsen (que era controladora de 41 empresas de vários outros ramos, entre elas a Panair, uma das maiores companhias aéreas que já existiram no país), e por empresários como José Luís Moura (do ramo de exportação de café em Santos), João de Escantimburgo (dono do jornal Correio Paulistano), e o deputado federal Ortiz Monteiro (que havia sido o fundador da TV Paulista), ainda no papel. Falaremos na próxima coluna sobre esta TV, que profissionalizou o meio televisivo e mexeu com toda concepção existente na época. Além do VT e a transmissão em rede na fundação de Brasília, a Excelsior foi o maior elemento desta mudança provocada pelo ano de 60. O canal 9 estreou em um dia 9 também, o de julho daquele ano - aniversário da revolução constitucionalista de 1932: data importantíssima para o povo paulista.

Falando em outro canal 9, o do Rio de Janeiro: a TV Continental vivia sua melhor fase em 1960 se consagrando, com popularidade e elevada audiência no programa "Figura de Francisco José", com este cantor português - aos sábados.

TV Cultura

Em 1958, os Diários Associados ganharam o sinal para transmitir um novo canal: na faixa 2, também em São Paulo. Assim, ao lado da TV Tupi, canal 3 os telespectadores iriam previlegiar os canais "associados", já que começando na ordem crescente do televisor, os dois seriam os primeiros e poderiam despertar a atenção do público antes da TV Paulista (5) e TV Record (7).

Estava tudo pronto para a estréia oficial do canal 2. No dia 20 de setembro de 1960, quando a Tupi comemorava dez anos e dois dias, entrava no ar a sua "irmã caçula", com o slogan "um verdadeiro presente de cultura para o povo" (à direita, logotipo da TV Cultura, em sua fase Associada (1960)..

No mesmo auditório que na fase experimental da TV Tupi, em julho de 50, o Frei José Mojica cantou, agora estavam instalados os estúdios da TV Cultura, no 15º andar do prédio dos Diários Associados (Edifício Guilherme Guinle), na Rua 7 de Abril, 230. Os técnicos e os atores vinham da Tupi, que também emprestava sua antena no alto do Banespa (Edifício Altino Arantes) para sua irmã, pois já possuía uma antena no Sumaré. O canal veio de repente, com pouca divulgação, e quando apareceu ninguém estava esperando.

A direção artística e comercial da emissora ficava à cargo de José Duarte Jr., depois Mário Fanucchi exerceu a função. Fanucchi veio da Tupi e foi conhecido por ser um dos primeiros "vinheteiros" do Brasil, o inventor do indiozinho da Tupi e de boa parte das vinhetas em cartões de Graytellop ("GT") da emissora. Havia pouco espaço para fazerem musicais e telejornais no estúdio de menos de 30m2. Grandes atrações de destaque do canal foram os profissionais Ney Gonçalves Dias, o produtor Fausto Rocha, Xênia Bier (como garota-propaganda), Jacinto Figueira Jr. - que na emissora criou o seu "personagem", o "Homem do Sapato Branco", primeiro programa popular da emissora. Entre seus profissionais, que muitos hoje acabam por confundir com os da Tupi da época, merece destaque o repórter e jornalista Carlos Spera, que futuramente daria o nome a rua onde hoje é uma das saídas da sede da TV Cultura, no bairro da Água Branca.

Troféu Roquette-Pinto

A TV Record, fez a primeira edição televisiva do Troféu Roquette-Pinto, criando neste mesmo 1960 a "Galeria de Ouro", que incluía os profissionais que por mais de seis vezes tivessem já ganhado o Roquette-Pinto, numa mesma categoria. O Troféu valia para todas as emissoras de São Paulo. (à direita, foto do Troféu Roquette-Pinto. Exemplar ganho pelo autor como melhor ator em Vigilante Rodoviário. Arquivo pessoal da Carlos Miranda.(década de 60).

Concessões e planejamentos

Nos bastidores televisivos se preparavam para entrar no ar três televisões: a Globo, que tinha ganhado sua concessão em 1957; a Bandeirantes, que ainda no governo getulista havia conseguido sua concessão e que se preparou por anos para entrar no ar, sendo a primeira emissora planejada do Brasil, começando a construir seu Edifício Radiantes do Morumbi no ano de 1961; e a Gazeta que ganhou a concessão em 1959. A Fundação Cásper Líbero ficou por quase uma década mostrando ao povo paulista que ela possuía um canal. Aonde hoje é o Edifício Cásper Líbero - sede do canal 11 na Avenida Paulista, 900 - , na época era um casarão digno da Paulista dos barões do café. E lá estava uma grande placa escrita: "Futuras instalações da TV Gazeta", nome do jornal pertencente à fundação. Só que a emissora só entrou no ar uma década depois, em janeiro de 1970.

Mudanças na Tupi

Este ano foi de grandes mudanças para a pioneira da América Latina. A Tupi naquele ano, ao lado da explosão de sucesso dos Associados no mercado televisivo (fundando muito canais juntos), em 1960, ela fazia de tudo para se afirmar como campeã de audiência e a grande aniversariante do ano, com 10 anos de vida.

Com a criação do canal na faixa 2, para não dar problema na imagem da TV Tupi, esta teve que trocar de sinal, pulando para o canal 4 em 1º de agosto de 1960, já que esta faixa e a 5 eram mais longas e não iriam interferir uma na outra. Mas isto não foi causa para a Tupi perder a audiência, que continuava em primeiro lugar.

Só que as surpresas da Tupi viriam como todos planejavam: em setembro, no mês de seu 10º aniversário. No dia 18 de setembro fez grande festa de aniversário, neste meio tempo o teleteatro "Hamlet" inaugurava o VT na emissora e no dia 28 vinha a grande consagração da TV Tupi: seu majestoso edifício-sede em São Paulo, seria inaugurado. Aquele, hoje sede da MTV, no número 52 da Av. Alfonso Bovero faria a emissora entrar em uma nova fase, já que seus antigos estúdios do Sumaré, nesta rua com a R. Piracicaba seriam refeitos e aperfeiçoados para abrigar uma "grandiosa potência televisiva", antes mesmo do nascimento da Globo. À direita, foto da inauguração do edifício-sede da Rede Tupi. Arquivo Canal 1 (28 de setembro de 1960).

Neste ano também o Repórter Esso faz uma entrevista histórica com o filósofo francês Jean-Paul Sartre e sua esposa.

Começavam a ser gravadas para a Tupi, a primeira série em película cinematográfica do Brasil, o "Vigilante Rodoviário". Este que estrearia na televisão no ano seguinte.

Inauguração de Brasília

Em 21 de abril de 1960 era fundada a "novacap" Brasília, que neste mesmo dia fundava três emissoras (veja próximo item). Uma delas, a TV Brasília, dos Diários Associados, fez uma grande cobertura da inauguração de nosso distrito federal. Sendo que esta cobertura fez a primeira transmissão em rede experimental. E deu certo, apesar de imagens tremidas. Utilizaram a antena da TV Brasília, depois dois aviões (um link aéreo perfeito!), geraram destes para a TV Itacolomi (Belo Horizonte) para uma outra antena por terra, que geraria para TV Tupi-Rio, que mandava para uma antena na Serra do Mar, que distribuiria para a TV Tupi de São Paulo, que mandava o sinal para o Sul do país e resto do Brasil...Ufa! É algo difícil de explicar rapidamente. Esta é apenas uma introdução do que vem por aí. O ano 60 deve ser comentado melhor outros dias, por causa das tantas mudanças significativas que nele ocorreram.

Estréias nacionais

Levando-se em conta as concessões pioneiras em cada Estado geradas desde o início da televisão, o ano 60 foi um grande marco, estreando em 5 estados e no novo distrito federal 9 emissoras de TV. Logo explico por quê 4 a mais:

Em Brasília as pioneiras foram juntas as emissoras TV Brasília (Associadas), TV Alvorada (Unidas) e TV Nacional (do governo), todas fundadas na inauguração de Brasília, em 21 de abril daquele ano.

Depois em Pernambuco, especificamente em Recife, a TV Rádio Clube, dos Associados, é fundada em 4 de junho, e a TV Jornal do Comércio (do Grupo Pessoa de Queiroz) no dia 18 do mesmo mês - só que a última atribui o pioneirismo a ela, por ter feito testes antes da TV Rádio Clube.

E é fundada outra TV Rádio Clube associada, agora em Goiás (no canal 4 de Goiânia), em 7 de setembro.

Em 29 de outubro é fundada a primeira do Paraná, a TV Paranaense de Curitiba. Esta pertencente ao empresário Nagib Chede, que falaremos em outra coluna.

No nordeste, em questão de dias, os Associados na Bahia fundam a TV Itapoan em 19 de novembro e no dia 26 a TV Ceará também.

E 11 dias antes da chegada do ano de 60 mais uma pioneira estadual foi inaugurada: a TV Piratini, canal 4 de Porto Alegre (Emissora Associada). A primeira a chegar no Rio Grande do Sul e com sua potência alcançava até mesmo o Uruguai!

Surgem na TV brasileira dois pioneiros estaduais, que não faziam parte das duas grandes potências televisivas (Emissoras Associadas - rainha do pioneirismo - e Unidas) e nem mesmo da União, que controlava o esquema de concessões. Estes foram o Pessoa de Queiroz e seu grupo, da TV Jornal do Comércio (PE) e Nagib Chede, da TV Paranaense (PR).

E em 1960 estas emissoras - até as pequenas - e muitas outras, principalmente as encabeçadas pelos Associados, Unidas e pela Organização Victor Costa, começavam a definir o que seria a ABERT ( Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), que seria fundada dois anos depois. A ABERT nasceu da junção das sociedades de rádio e televisão regionais, como a AESP (de São Paulo), a ABERT (Bahia), APERTEC (Ceará), APERT (Paraíba), ASSERPE (Pernambuco).

E apresentamos um resumo aqui deste ano que movimentou o universo do radialista, fez história e acima de tudo: escola. Até nossa próxima atração! 

Anúncio da Equipe Esportiva da TV Tupi, já no canal 4. Arquivo CCSP (década de 60).

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