Televisão
por Elmo Francfort Ankerkrone
Setembro 28, 2001
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Telejornais que fizeram história 

A televisão não foi feito só para inventar, mas também para noticiar. Partindo deste princípio esta semana falamos aqui sobre os telejornais que fizeram história. Esta é a primeira parte de uma série de colunas que falarão sobre o jornalismo na televisão. Pois os radialistas e jornalistas, apesar de várias brigas que entre as partes, sempre estão juntos nesta empreitada televisiva. Fiquem vocês com a primeira parte, que vai do pioneiro "Imagens do Dia" ao "Jornal Nacional". 

Imagens do dia seguinte 

Um dia após a fundação TV Tupi de São Paulo (e da televisão brasileira), em 19 de setembro de 1950, ia ao ar o primeiro telejornal do Brasil: "Imagens do Dia". Muitos discutem quem foi mesmo o primeiro apresentador do telejornal, que na época era ao vivo. Uns dizem ter sido Ribeiro Filho, outros falam que foi Maurício Loureiro Gama (o próprio aliás defende até hoje o seu mérito de pioneiro). O que sabemos é que depois de um tempo Loureiro Gama tornou-se mesmo o oficial jornalista de "Imagens do Dia" e depois estreou também o vespertino "Edição Extra". E há outros que ainda dizem ter sido Ruy Rezende. Quem sabe os três nesse primeiro dia estivessem juntos? 

"Imagens do Dia", por causa da inexistência do VT nos primeiros anos da televisão, tinha gravado suas notícias em "externa" com uma pequena câmera cinematográfica da RCA - imcomparáveis ao tamanho e ao peso das câmeras TK-30 de estúdio. 

O jornal começava entre as 21h30 e 22h...No início os intervalos entre um bloco e outro eram enormes, cansando os telespectadores - muitos acharam que a televisão não iria pegar no Brasil por causa disto. 

Mas uma certeza temos: os cinegrafistas da TV Tupi eram mesmo Alfonso Zibas e Paulo Salomão, que desde o primeiro dia se revesaram em busca de uma notícia de São Paulo, do país e do mundo. Saíam com as câmeras e tempos depois voltavam com as cenas para o chefe Jorge Kurkjian revelar os filmes no laboratório de cinematografia da emissora. Quando ia ao ar, o apresentador (que na época era também locutor e redator de suas notícias) lia e comentava as notícias que agora tinham um vídeo para comentá-las. 

Maurício Loureiro Gama disse uma vez, que no dia seguinte do jornal ir ao ar pela primeira vez uma senhora o parou na Rua Marconi e deu-lhe uma bronca, dizendo que ele havia sido arrogante e não havia falado "com ela", enquanto esta fazia crochê defronte da TV. A mulher já tinha visto televisão nos Estados Unidos e reclamou com o apresentador da assustadora diferença. A partir daí Loureiro Gama reformou a linguagem das notícias jornalísticas para uma que parecesse uma conversa entre o apresentador e o telespectador. Assim era descoberta a linguagem do telejornalismo, dando os primeiros passos que o jornalismo que hoje conhecemos na TV. Aquela linguagem se desvinculava em parte da do radiojornalismo e jornalismo impresso. 

Aos poucos a TV ao vivo definia padrões de horário em sua programação e público começava a aprender os horários que seu programa passaria. Mas para deixar mais claro ainda, a Tupi resolveu afastar alguns fantasmas desta programação sem horário... Foi assim que saía do ar "Imagens do Dia", depois de três anos, e no dia seguinte entrava "Telenotícias Panair" (patrocinado por esta extinta empresa de aviação), com horário já definido: 21h. Tempos depois saía do ar este jornal, que não tinha a mesma força que o anterior. 

O telejornalismo de fim de noite da Tupi, após o fim do "Telenotícias Panair" foi modificado para às 19h45 em ponto, enquanto eu seu horário antigo entravam produções dramatúrgicas. Foi assim que neste horário foi criado um modelo de pontualidade e que revolucionou o telejornalismo brasileiro: "O Repórter Esso" que foi ao ar pela primeira vez em 1º de abril de 1952, trazendo do rádio um padrão jornalístico até hoje reconhecido como de qualidade. Leia mais na minha coluna sobre o Repórter Esso

Nesta mesma época a TV Tupi abria um horário de tarde para o telejornalismo. Daí surgiu "Edição Extra", também com Maurício Loureiro Gama. E foi o "Edição Extra" que lançou o primeiro repórter de vídeo de nossa televisão: José Carlos de Morais, o famoso "Tico-Tico". Desta fase também não podemos esquecer do repórter Carlos Spera, da TV Tupi e da TV Cultura (fase "Associada") 

Mappin Movietone 

Mudando agora de canal, vamos falar da TV Paulista, canal 5 de São Paulo. Ela também teve seu sucesso no jornalismo. O nome do jornal era "Mappin Movietone", patrocinado pelas saudosas Lojas Mappin. 

O apresentador era Roberto Corte Real, com sua inconfundível gravatinha borboleta. O jornal se iniciou em 1953, sob a direção de Mário Mansur. As notícias eram mais faladas pelo apresentador, do que mostradas. A TV Paulista não havia tantos recursos, nem técnicos, nem financeiros igualados a líder de audiência TV Tupi. 

Este programa tem sua importância na história da televisão brasileira: nele surgiram as primeiras apresentadoras de telejornal em 1959... Eram as atrizes Cacilda Lanuza e Branca Ribeiro, que acompanhavam o poeta Paulo Bonfim na apresentação conjunta do jornal. O programa durou por muito tempo... Em 1965 saiu do ar para começar a entrar a nova programação do canal que logo se tornaria TV Globo. 

Um jornal de vanguarda 

A Excelsior na década de 60 já havia se tornado uma potência em seus primeiros anos, trazendo programas de alta qualidade. E pelas mãos do diretor Fernando Barbosa Lima nasce o "Jornal da Excelsior" em 2 de setembro de 1963, na TV Excelsior do Rio de Janeiro. Após conseguir um patrocinador, este obrigou a emissora a mudar o programa colocando o seu nome, ficando "Jornal Cássio Muniz". 

O programa dava ao telejornal um tom informal, visual dinâmico, além de possuir vários locutores e quadros como o do misterioso "Sombra", que dava as notícias confidenciais apenas mostrando sua silhueta. Quadros de humor, caricaturas (de Appe) e desenhos (de Millôr Fernandes) davam uma forma diferenciada ao jornal. O jornal não só dava a notícia, como a interpretava dramaturgicamente. 

O "Sombra" era Célio Moreira, jornalista e irmão de Cid Moreira, este que iniciou sua carreira no telejornalismo a partir do "TV Vanguarda". Junto com ele Jorge Sampaio, Luís Jatobá e Fernando Garcia fizeram sucesso apresentando o telejornal. 

Em 1964 este jornal, por causa de seu formato ganhou o Prêmio Ondas na Espanha, de melhor telejornal do mundo! 

Foi de tanto sucesso que o programa e toda equipe se transferiu de canal em 1964, indo para a TV Tupi em 1965. Foi lá que ele foi batizado de "Jornal de Vanguarda". No ano seguinte era a vez da TV Globo do Rio também levar o programa embora da outra emissora, o mesmo aconteceu depois com o mesmo jornal, ao passar pela TV Continental e depois pela TV Rio. Nesta emissora em 1968 saiu do ar, após a censura imposta pelos militares, através do Ato Institucional N.º 5 (A.I.-5) vigorar. 

O slogan do programa era: " um show de notícias". Esta foi uma das razões para a versão paulistana deste jornal de chamar "Show de Notícias", que passou na TV Excelsior de 1963 a 1964, apresentado pelo jornalista Fernando Pacheco Jordão. 

Em 1988 a Rede Bandeirantes contratou Fernando Barbosa Lima para refazer o seu "Jornal de Vanguarda", que durou até o início da década de 90, apresentado por Dóris Giesse. 

Jornal nacional mesmo 

Até então todos os programas eram regionais, mas uma vez ou outra eles formavam uma rede de transmissão e faziam valer a palavra "rede" na frente das associações televisivas existiam pelo Brasil, com a Rede Tupi e Rede Excelsior. Mas a produção totalmente centralizada e o primeiro programa gerado para Brasília e mais oito Estados (das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste) foi o "Jornal Nacional". 

O "Jornal Nacional" entrou no ar em 1º de setembro de 1969, com os apresentadores Cid Moreira e Hilton Gomes (à direita, Cid Moreira no Jornal Nacional - Década de 90 - Divulgação Rede Globo). Hilton Gomes disse ao público:

- "O Jornal Nacional da Rede Globo, um serviços de notícias integrando o Brasil novo, inaugura-se neste momento: imagens e som de todo país." 

Assim nascia o famoso "JN", que foi considerado um marco para a implantação geral do sistema de rede no país, já que a Globo assim inaugurou o conceito correto de "Rede" depois deste jornal. Na primeira edição informaram o nome dos ministros que estavam governando o Brasil, devido ao afastamento do Presidente Costa e Silva após problemas de saúde. Foram ao ar cenas de várias partes do país: São Paulo, Curitiba, Porto Alegre... Além de um noticiário internacional, com imagens da UPI (United Press Internacional), que anteriormente cedia imagens ao Repórter Esso. O programa terminou com a seguinte frase de Cid Moreira: 

" - É o Brasil ao vivo aí na sua casa. Boa noite." 

A força do Jornal Nacional derrubou "O Repórter Esso", que um ano depois, aliás, no último dia de 1970 (31 de dezembro) Gontijo Teodoro anunciou, com a cara coberta de lágrimas, que aquele telejornal iria ao ar pela última vez. Depois disto vários jornais tentaram fazer com que a Tupi conseguisse recuperar sua audiência, mas nenhum conseguiu. O fim de "O Repórter Esso" estava previsto até antes, porque o "TV de Vanguarda" estava roubando muitos de seus pontos, mas o caso da censura derrubou o outro primeiro. 

E gostaria de contar um fato curioso, que pouca gente sabe. O "Jornal Nacional" não nasceu na Rede Globo, o que nasceu na emissora foi apenas o formato deste "JN" e a transmissão ao vivo para todo país. O primeiro "Jornal Nacional" foi criação da TV Rio no início da década de 60 e tinha como apresentador Hilton Gomes e Léo Batista (hoje comentarista esportivo da Rede Globo). O nome era "Jornal Nacional", porque era patrocinado pelo Banco Nacional. Mas pouco tempo depois ele saía do ar, sendo quase que totalmente apagado da história televisiva.

Como ficamos depois? 

Em três anos o "Jornal Nacional" já havia se tornando líder em audiência. Mal estreou e já levou as imagens do homem pisando pela primeira vez na Lua, falou das enchentes, falou dos problemas do Brasil e até hoje continua falando... 

A partir daí a história televisiva se modifica. É mais uma das fortes fases que fizeram a televisão chegar ao que é hoje. Aquele 1969 marcava o fim de uma década que modificou a TV nacional. O ano de 1960 foi um marco para o "pipocamento" de novidades no meio. Via-se uma Tupi que começou inteira no início da década e que agora estava prestes a começar a ir em direção a uma falência, que viria 11 anos depois. Vimos uma Record pequena crescer com os festivais e aos poucos ir para a decadência, sendo logo vendida para Silvio Santos. Olhamos um país aprender a constituir uma rede de televisão. Observamos uma Excelsior modificar conceitos e técnicas da televisão e de repente deixar de existir. O mesmo aconteceu com a TV Cultura, que a partir de agora começaria uma nova vida sob o comando da Fundação Padre Anchieta. De repente, a TV Paulista desaparece de vez e nasce uma Rede Globo, forte e que eleva o canal 5 a altos índices de audiência aos poucos. Os militares tomam o poder. A linguagem das novelas se modifica. As outras grandes emissoras do Rio de Janeiro também começam a ir à decadência. Nasce no final uma TV Bandeirantes, que demorou uma década para entrar no ar e a TV Gazeta também surge no meio de toda essa história. Bem vindos à década de 70. 

TV Leitor 

-  Respondo aqui a carta da leitora Raquel Viana, estudante de Comunicação Social, que disse: "Achei muito interessante todo o artigo sobre a TV Globo, mesmo porque todos a conhecem mas ninguém sabe, ao certo, como tudo começou e sua história." Sobre a dificuldade de arranjar um emprego por lá não é algo tão fácil. É algo já difícil na maioria das emissora, ainda mais na líder de audiência os critérios são mais rigorosos. O profissionalismo da Globo é invejável, coisa que muitas das outras também tem, mas não fazem uma publicidade como a tal. Mas não perca as esperanças. Quem luta pelo que quer um dia consegue, mesmo que demore ou que seja daqui pouco tempo. Não desanime. 

- Infelizmente perdemos na última quarta-feira, dia 26 de setembro, mas uma peça importante da televisão brasileira. Morreu o diretor Walter Avancini, que dirigiu muitas novelas da Tupi, da Excelsior, da Globo, da Manchete e do SBT e até mesmo produções portuguesas. Perdemos mais um, que agora integra o "cast" da emissora de Deus. O que fica é a memória do ator e diretor Avancini, que dirigiu sucessos como "A Deusa Vencida", "Selva de Pedra", "Xica da Silva" e "Beto Rockfeller" - a novela que modificou a linguagem do gênero no país em 1968. Teve o presente de morrer com uma de suas produções no ar, "A Padroeira" - novela das 18h na Rede Globo, escrita por Walcyr Carrasco (com quem fazia dupla desde "Xica da Silva", o último grande sucesso da Rede Manchete). Uma das pessoas que foram muito responsáveis pela mudança de mentalidade na televisão brasileira na década de 60 que durante semanas descrevemos aqui. Fica aqui esta homenagem.

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